é possível aceitar as diferenças do “outro”? por que sim/não?

abril 28, 2010 às 12:27 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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Você é tolerante? Educação é a resposta para se entender o outro

Eloy Vieira / Luiz Amaro
comunica@ufs.br

Uma pergunta: você é tolerante? Pense um pouco e responda. Não precisa pressa. Oferecemos o tempo que achar necessário para refletir sobre seus atos e encontrar uma resposta. Mas, para não desgastá-lo muito, damos uma colher de chá. Segundo o professor Saulo Henrique, do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Sergipe, ao pé da letra a palavra tolerância, que vem do latim ‘tolerare’, significa “sofrer, suportar, aceitar uma opinião que vai de encontro às suas crenças pessoais”, o que implicaria dizer que tudo seria aceitável. Mas a questão não é assim tão simples. Há um limite para se tolerar. “Não se deve tolerar aquele que não tolera. A tolerância deve ser um princípio difundido na sociedade, na política e na religião, mas tem que haver um limite”, diz o professor. Ainda segundo ele, crimes ou atitudes que contrariem o bem-estar da sociedade civil devem ser repreendidos, inclusive pelo Estado.

Hoje em dia, ainda de acordo com o professor, a questão da tolerância está bastante ligada ao liberalismo e à democracia, pois o Estado não tem mais o poder de intervir na vida privada como tinha séculos atrás. “A tolerância não existiria hoje se não fosse a liberdade proporcionada pelo liberalismo”, afirma, mas alerta que a democracia tem dois lados. “Ela permite uma tolerância, mas muitas vezes a democracia não tolera, pois a maioria acaba restringindo o indivíduo. Além disso, muitas vezes permite exclusões como no caso de pobres, negros, homossexuais etc.”.

‘Surgimento’ da tolerância
Depois de diversas guerras religiosas na Europa da Reforma Protestante do século XVI, a tolerância surge como uma necessidade pacificadora, como um meio de se conviver com o desmembramento que o Cristianismo assistia. Mas, só no século seguinte passa a ser objeto de estudo e alvo de vários tratados filosóficos confeccionados por estudiosos como o holandês Henri Basnage de Beauval, o inglês John Locke e o francês Pierre Bayle.
  A professora aposentada da UFS Vahideh Jalali, que saiu do Irã década atrás, diz que até hoje a intolerância religiosa em seu país ainda é muito forte contra a sua fé, a Fé Bahá’í, que surgiu em território iraniano há pouco mais de 160 anos. “Eu saí do Irã com cerca de 20 anos de idade, e lá há preconceitos religiosos contra minorias e também contra as mulheres. O ambiente [no Irã] é muito fechado”. Na UFS, a professora coordenou o curso de especialização em “Estudos para a Paz e Resolução de Conflitos”, que formou cerca de 70 estudantes em duas turmas realizadas em 2006 e 2007. Atualmente, concentra-se na publicação de seu livro: uma compilação de vários textos sobre a paz e resolução de conflitos.

Educação
A globalização e o multiculturalismo que assistimos hoje consistem em pontos importantes para se entender a tolerância. Sem este princípio, aliás, aqueles dois elementos perderiam o sentido. Ao se permitir intercâmbios culturais cada vez mais frequentes, as distinções entre o que é certo ou errado favorecem, muitas vezes, a compreensão mútua. Mas só isso não basta. O ponto a se debruçar consiste, fundamentalmente, num só: a educação. É o que acredita o professor Saulo. “O homem é intolerante por natureza. Ele não costuma ver o que é diferente com bons olhos”, diz. “É através da educação das novas gerações que esse processo pode ser revertido. Muitas pessoas já têm ideias arraigadas e por isso só as novas gerações têm potencial para mudar essa visão de mundo. A solução para a intolerância não pode ser feita a curto prazo”. O ensino de Filosofia torna-se, assim, num instrumento indispensável à sobrevivência harmônica do homem.

FONTE: Portal UFS

Dissertando sobre a negrabrasilidade literária

abril 24, 2010 às 5:46 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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Defesa

Para saber um pouco mais sobre os fundamentos da pesquisa a ser debatida no Centro de Estudos Afro-Orientais, leia o artigo Literatura negra: uma voz quilombola na literatura brasileira, da professora de literatura e renomada poeta Conceição Evaristo, texto que apresenta elementos básicos para a caracterização das vozes literárias negras que mantém um dialogismo tenso com o cânone literário brasileiro, conforme propõe Simone Santos –- clique AQUI. Para visitar o site do Pós-Afro e conhecer este ativo programa de pós-graduação em estudos étnicos e africanos, clique na imagem acima.

novos diálogos Brasil-Portugal

abril 24, 2010 às 5:18 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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"Brasil, Portugal – Lá e Cá" – programa de televisão aproxima os dois países

Co-produção das televisões públicas TV Cultura, do Brasil. e RTP2, de Portugal, o programa "Brasil, Portugal – Lá e Cá", que começa a ser exibido simultaneamente nos dois países no próximo domingo, dia 25 de Abril, é uma série de treze episódios que mostram, em ângulos ainda pouco conhecidos, o Brasil aos portugueses e Portugal aos brasileiros.

Mistura de documentário com "talk show", o programa "Lá e Cá" é apresentado pelo jornalista brasileiro Paulo Markun e pelo português Carlos Fino, Conselheiro de imprensa da Embaixada de Portugal em Brasília. Em conversas informais, eles debatem as semelhanças e as diferenças entre os dois países, fornecem informações para o telespectador compreender melhor os processos de cada país e tratam da evolução e perspectiva das relações entre o Brasil e Portugal.

A série aborda assuntos actuais e, quando necessário, resgata informações no passado, procurando sempre manter o olhar voltado para o futuro.Semelhanças e diferenças, curiosidades, subtilezas, resgate histórico e cultural entre dois países tão distantes e, ao mesmo tempo, tão próximos.

"Lá e Cá" tem como cenários de partida a casa de Paulo Markun, em Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina, no bairro Santo António de Lisboa, de influência açoriana, e a de Carlos Fino, em Fronteira, no Alto Alentejo, em Portugal.

A partir daí, as reportagens abrem para todo o Brasil e todo o Portugal, com temas que vão da Cultura à História, passando pela Economia e a Emigração, num variado leque de assuntos que interessam tanto a portugueses como a brasileiros.

No primeiro episódio, depoimentos como os da cantora Fafá de Belém, do jornalista português do semanário Expresso, Nicolau Santos, da artista plástica brasileira residente em Portugal, Letícia Barreto, do cantor e e compositor brasileiro Tom Zé e da fadista luso-moçambicana Mariza trazem-nos pontos de vista individuais que contextualizam o cenário sócio-cultural luso-brasileiro.

Os episódios do "Lá e Cá", ficarão disponíveis, logo após o seu lançamento, no site www.tvcultura.com.br/laeca, com a opção de que o público envie os seus comentários e os seus próprios vídeos. Os mais criativos ficarão em destaque.

Exibições: na TV Cultura, aos Domingos, às 21h (horário de Brasília). Na RTP 2, aos Domingos, às 21h (horário de Portugal).

Acesse:
www.tvcultura.com.br/laeca

FONTE: Embaixada de Portugal – Brasília, 23.4.10

letras para download

abril 15, 2010 às 1:38 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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letrasusp

A cada dia, a cada minuto que passa, amplia-se num ritmo formidável  a disponibilização de informações e de saberes na rede eletrônica mundial, a famosa internet. Tão imensa e tão labiríntica, o desbravamento dessa rede exige do pesquisador um trabalho contínuo de atualização dos roteiros de busca e dos “favoritos”.

Nas prateleiras eletrônicas do blogue LETRASUSP DOWNLOADS disponibiliza-se uma diversificada biblioteca básica para os estudos literários em suas principais vertentes brasileiras e estrangeiras, além de obras importantes no campo da linguística e das interfaces desta com a literatura. Sem dúvida, vale algumas horas de pesquisa, com garantia de resultados frutuosos.

a crise da educação e a transformação das estruturas sociais

abril 14, 2010 às 7:29 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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ensino

A qualidade da escola pública: a necessidade de novos consensos

Luciano Mendes de Faria Filho

"Ao abandonar a escola pública, a classe média – profissionais liberais, acadêmicos, profissionais da mídia – passou a discutir a qualidade da educação dos filhos dos outros, pois seus filhos estavam (e estão) na escola privada"

Não há dúvida que existe hoje, na sociedade brasileira, um grande consenso sobre a baixa qualidade da escola pública, seja esta dimensionada por critérios internos ou externos ao sistema escolar. As tentativas recentes de melhorá-la e a acentuada melhoria em certas variáveis da cultura escolar – qualidade dos livros didáticos, por exemplo – ainda não se fizeram sentir no conjunto do sistema.

Felizmente, hoje, a qualidade da escola pública é uma questão que preocupa os governos nos diferentes níveis, acadêmicos, profissionais da mídia e a população de um modo geral.

Se há consenso quanto ao diagnóstico sobre a situação atual, o mesmo não ocorre com as explicações sobre como chegamos a essa situação e nem quanto às possíveis saídas para o problema. Proponho uma discussão sobre estes dois aspectos na expectativa de que possamos avançar na produção de novos consensos, que nos permitam atuar de forma coletiva na mesma direção.

Em muitos dos diagnósticos para a chamada "queda de qualidade da escola pública" no Brasil está presente, quase sempre, a ideia de que a mesma piorou na medida em que os mais pobres a ela tiveram acesso. Isto é apenas parte da verdade.

Em primeiro lugar porque a escola pública que existia no Brasil antes da massificação do ensino já era uma escola em que, de 100 crianças que entravam, apenas 50 ou 60 passavam na primeira série e, sobretudo, apenas 12 ou 14 chegavam à 4ª série primária. Era, portanto, uma escola de qualidade para muito poucos. Para a maioria, era uma escola de péssima qualidade.

Em segundo lugar, e isso me parece mais importante, é preciso que observemos que enquanto os países europeus e os EUA – que também hoje discutem a baixa qualidade de suas escolas – levaram um século ou mais para massificar a escola, no Brasil, de fato, ela ocorreu em pouco mais de 30 anos.

A acelerada e necessária democratização da escola pública em finais do século XX tem enormes impactos no sistema como um todo e é de grande significado para a qualidade da escola. Mas não apenas porque entraram os mais pobres, mas sobretudo porque isso significa que temos pouca experiência no trato com as dificuldades daí advindas, tais como formação de professores, currículos adequados e condições de financiamento.

Mas é sobretudo do ponto de vista cultural que a rápida expansão se faz sentir. Sabemos que a cultura escolar elaborada nos dois últimos séculos, ao mesmo tempo em que buscou convencer o conjunto da população que a escola era o melhor lugar para a socialização das novas gerações, tornou, por outro lado, fundamental que a família participasse ativamente do acompanhamento escolar de seus filhos.

Com a complexificação da escola, dos conhecimentos escolares e dos conhecimentos sobre a infância, para que os pais se relacionem de forma qualitativamente positiva com a escola é necessário que detenham um conjunto de conhecimentos e experiências aprendidas justamente na escola. Assim, conhecer a "maquinaria escolar" passou a ser cada vez mais importante para influir na mesma e acompanhar a escolarização dos filhos.

Não podemos desconhecer este fato, pois é impossível pensar em escola de qualidade sem que as famílias estejam interessadas e engajadas na discussão acerca da qualidade que lhes interessa.

O que ocorre hoje no Brasil? Com a rápida expansão da escola, muitos dos pais de crianças que estão na escola não passaram pela escola ou, no mais das vezes, tiveram rápida experiência escolar. Assim, se as camadas populares não são politicamente inaptas para a discussão sobre os rumos da escola, a falta de conhecimento e experiência escolar em muito dificulta um acompanhamento sistemático da escolarização de seus filhos e, sobretudo, uma discussão mais aprofundada sobre as características de uma escola de qualidade.

É evidente que um diagnóstico sobre as raízes da baixa qualidade da escola pública não pode parar por aqui. Outro elemento de grande relevância, esse sim quase sempre ausente dos diagnósticos, é o impacto que teve na qualidade da escola pública o fato de a classe média tê-la abandonado.

A começar, o impacto é grande porque é a classe média que poderia, com mais propriedade, discutir as características de uma educação de qualidade, pois é ela quem detém os códigos escolares necessários para tal.

Mas não apenas por isso: ao abandonar a escola pública, a classe média – profissionais liberais, acadêmicos, profissionais da mídia – passou a discutir a qualidade da educação dos filhos dos outros, pois seus filhos estavam (e estão) na escola privada. O engajamento na defesa de uma boa escola para os outros é muito diferente do engajamento para a melhoria da escola para meus filhos.

Em terceiro lugar, houve o reforço da estrutura social e cultural brasileira, em que os nossos filhos não podem e nem precisam conviver com os filhos dos outros, como se fosse possível construir, a partir dessa assertiva, uma sociedade mais democrática e menos desigual.

Por último, o fato de a classe média ter abandonado a escola pública fez com que um razoável volume de recursos públicos e privados fosse desviado para o custeio da escola privada, deixando, portanto, não só de ser dirigido à escola publica, mas também à compra de outros produtos culturais de grande relevância para a formação: livros, teatro, cinema, por exemplo.

Talvez, sobre isso, pudéssemos pensar que uma escola de qualidade somente será possível se for uma escola de convivência, e não de separação, uma escola de todos nós e onde, nesse aspecto em particular, não houvesse um "nós e os outros".

Assim, é possível fazer educação de massa de qualidade em um país que detém os piores índices de distribuição de renda do mundo? Se a resposta não é de todo negativa, não podemos, no entanto, negligenciar o fato de que a escola na atua num vazio social ou cultural.

Por mais que isso esteja posto, é preciso repetir que qualquer defesa de uma escola de qualidade para as populações mais pobres não pode esquecer que a qualidade da escola somente passa a ser um problema para os próprios sujeitos à medida que estes não estão afogados – ou se afogando – em outras preocupações mais importantes, como a comida, a casa e o trabalho. Não podemos esquecer que é difícil pensar em escola de qualidade para todos numa sociedade tão desigual como a nossa.

Rever nossos consensos é, pois, de fundamental importância para uma ação coletiva na área. Por isso, é preciso discutir, por exemplo, se a ideia de que a escola assegura melhores empregos é ainda sustentada na realidade do mundo do trabalho e se é, hoje, justificativa para a frequência à escola. É preciso considerar, em nossas propostas, que a escola somente será de qualidade se houver um efetivo engajamento não apenas dos pais e da sociedade como um todo, mas dos próprios alunos: sem alunos interessados não há escola de qualidade.

Finalmente, é preciso atentar para o fato de que quase sempre que falamos nos interesses dos alunos, acionamos a tecla da formação de professores e da reforma curricular. Talvez devêssemos, antes, perguntar: por que todo governante gosta de fazer reforma curricular e realizar cursos de formação de professores? Simplesmente porque são as ações mais baratas e fáceis de fazer.

Na verdade, ao tratar da proposição de uma escola de qualidade, deveríamos sempre desconfiar de toda ação que enfatize a formação de professores e a reforma curricular sem que estas sejam antecedidas de uma efetiva melhoria salarial e das condições de trabalho do professorado. É preciso considerar que, em boa parte, os professores não fazem mais e melhor pela escola pública porque isso é humanamente impossível nas condições em que trabalham e vivem. E, por outro lado, não podemos esquecer: é impossível fazer escola de qualidade sem professor interessado.

Essa é a questão que devemos enfrentar: em que medida a sociedade brasileira está disposta a arcar com os custos de uma efetiva melhoria salarial e das condições de trabalho do professorado da escola pública? Em que medida as classes médias estão dispostas a recuperar a ideia e o projeto de uma escola pública para todos nós e não apenas para os outros?

Isso é importante porque também é impossível fazer uma escola de qualidade se a sociedade como um todo não estiver interessada e disposta a arcar com os custos da mesma.

Luciano Mendes de Faria Filho é professor de História da Educação da UFMG e pesquisador bolsista do CNPq.

FONTE: Jornal da Ciência

pesquisando em revistas acadêmicas

abril 11, 2010 às 16:24 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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dica_pesquisa_c

A pesquisa na internet, para ser eficaz, sempre exige persistência, refinamento e muita criatividade. A diversidade dos temas atribuídos às Tríades, na LitPort 2, demanda também uma perspectiva interdisciplinar para a localização de fontes. No âmbito dos textos acadêmicos, uma fonte ainda pouco explorada pelos estudantes, apesar de sua vasta riqueza, é o PORTAL DE PERIÓDICOS DA CAPES, a partir do qual se podem acessar inúmeras revistas especializadas. Importante lembrar que nem sempre os sites dessas revistas dispõem de bons sistemas internos de busca, reclamando a leitura de sumários e índices de sucessivas edições, mais ou menos como folheamos livros numa biblioteca “de papel”. Outras dicas para a pesquisa podem ser obtidos no site DIA-A-DIA @DUCAÇÃO, da Secretaria de Educação do Paraná, clicando-se AQUI ou na imagem acima.

Aliás: já experimentou digitar no Google “pesquisar na internet” para ver o que aparece?

pesquisar internet

escrita, oralidade, imagem e inteligência: quem dá mais?

abril 6, 2010 às 14:38 | Publicado em Uncategorized | 1 Comentário
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dialogismo conflito

Alguns leitores do site da agência de notícias Carta Maior, de onde foi transcrito o artigo abaixo, posicionaram-se criticamente em relação às considerações de Luís Carlos Lopes sobre a maneira como a falta de hábitos de leitura entre os brasileiros, principalmente os mais jovens, estaria gerando um vazio intelectual nas pessoas e empobrecendo-lhes a criatividade. E você, o que acha dessas questões?

Língua, conhecimento e crítica

Com exceção das elites mais cultas e politizadas, os jovens que já ‘estudaram’ em escolas fortemente atingidas pela força dos meios de comunicação do tempo presente tendem a pensar o mundo com muitas imagens e poucas letras, pior ainda, com pouquíssimas idéias.

Luís Carlos Lopes, Carta Maior, 24/03/2010

Volta e meia aparecem nas mídias os erros crassos de alunos nos vestibulares. Normalmente, eles são coletados nas redações e se referem ao uso da língua e ao domínio de conhecimentos básicos e especializados. A chacota e a estupefação substituem um exame mais sério do problema. Ora, eles deveriam saber, se não sabem é porque são “burros”, isto é, incapazes de aprender, tal como animais! Este modo de ver e comunicar o que ocorre, encontrável em múltiplas fontes, é levado ao paroxismo e serve de explicação absolutamente falsa, derivada de preconceitos típicos visíveis na sociedade brasileira. As redações geniais e os textos sem erros apreciáveis jamais são midiatizados. Um desavisado pode imaginar que todos os estudantes sofrem da mesma dificuldade, o que é um absurdo lógico. Espetaculariza-se o erro, talvez, para esconder os acertos.

A fala de políticos oriundos das camadas populares é objeto do mesmo tratamento. Seus erros de concordância, de acordo com a norma culta da língua, são muito freqüentes e servem para armar os que odeiam os pobres e não fazem qualquer esforço para compreendê-los. A imprecisão vocabular, o uso de comparações estapafúrdias e conceitos inadequados são tratados como sinônimo de incapacidade e de falta de inteligência. Se alguém não sabe se comunicar, tal como a elite branca e letrada, também não saberá governar! Isto significaria uma tragédia para o país. Curiosamente, é comum que os acusadores sejam portadores dos mesmos problemas dos acusados. Repetem como papagaios o que ouviram em algum espaço social ou nas mídias, reafirmando práticas odiosas de discriminação racial e social. Esquecem que já viveram situações onde os governantes eram letrados e se diziam poliglotas e nada disso impediu a corrupção e a tomada de medidas contra os trabalhadores.
O fato de ser formalmente letrado não exclui a possibilidade de ‘errar’ no português culto e muito pior do que isto demonstrar incrível incapacidade de compreensão de rudimentos básicos das ciências e das artes eruditas e populares. O porte de diplomas pode ser uma arma de distinção, usada para a ascensão social e para a manutenção de empregos e de privilégios. Entretanto, isto não garante o domínio da norma culta da língua e nem mesmo do conhecimento especializado que é objeto da diplomação. Não são poucos os falantes do ‘javanês’ completamente e corretamente portadores das láureas formais dos canudos de papel. É possível chegar ao grau máximo – o doutorado – sem que se tenha um grau mínimo de verdadeiro saber. Sem deixar de lembrar, que o conhecimento acadêmico jamais substituirá àquele vivenciado por cada um, o que os distingue do ponto de vista humano, para o bem e para o mal. Nenhuma academia pode garantir a humanidade positiva de cada um de seus alunos.

Obviamente, não há santidade no desconhecimento lingüístico e na ignorância técnica, científica e artística. Na política, ninguém é santo por pouco saber. Todavia, muito pior do que a inexistência do domínio dos elementos básicos do conhecimento acumulado pela humanidade é o ato de vendê-la aos interesses do capital. Uma frase capenga com erros de construção gramatical consiste em um erro social praticado por um indivíduo que teve problemas para estudar desde sua infância. Trata-se de um problema político, contra o qual não se devem medir esforços para impedir que se repita melancolicamente no mesmo país. O que dizer dos que estudaram, dos doutores que se omitem, dos que se calam frente a qualquer iniqüidade, dos que aceitam a guerra, a fome e a miséria como fatos naturais e inelutáveis, dos corruptos diplomados na ladroagem oficial e oficiosa.

A simples leitura dos comentários dos leitores das grandes mídias indica, em profusão, a existência do mesmo problema. Na era da Internet, surgiram novas formas de comunicação escrita usadas por anônimos que adoram comentar o que lêem e, mais ainda, o que vêem, na forma de imagens fixas e em movimento. Há uma forte vontade pública de se dizer o que se pensa, mesmo que o espaço seja pequeno e a prosa seja igualmente limitada. Os leitores superaram o espaço das antigas cartas mandadas para os jornais. Eles participam em uma espécie de fórum eletrônico, onde comentam o que outros escreveram. Nas mídias de menor alcance social, como nesta onde escrevo, a tendência é a de existir um maior cuidado. Todavia, os mesmos problemas também se repetem.

Em vários programas e sítios ditos de ‘relacionamento social’, podem-se captar tendências formais de uso da língua e domínio de conteúdo especializado ou de amplo interesse público escritos do mesmo modo de sempre. Obviamente, que existem inúmeras variações e exceções. Parte-se do princípio que são os jovens os seus principais usuários, certamente, isto não é inteiramente verdadeiro. É difícil mensurar com maior precisão as faixas etárias, a origem, posição social e o local de acesso dos envolvidos. Aparentemente, esta forma de comunicação é usada principalmente pelo público adolescente e por pessoas com menos de trinta anos. Entretanto, o acesso é possível a qualquer um que possa usar um computador no sentido de tempo e de meios materiais disponíveis.

As dificuldades hegemônicas de uso da língua e de domínio dos demais conhecimentos humanos consistem em um problema político a ser enfrentado. A melhoria do nível geral de acesso ao saber possibilitaria a construção de pessoas mais dificilmente domesticáveis e, conseqüentemente, mais aptas para a construção de uma verdadeira cidadania. Em todo o mundo, quem foi capaz de ampliar e diversificar a instrução das multidões foi o sistema público de ensino. Sem ele, fica difícil imaginar que a educação seja algo além do que uma simples mercadoria ou um simulacro do verdadeiro saber. O problema é que a educação isoladamente não faz milagres. Não adianta, ter escolas com salários de fome para seus professores e com alunos que vivem em condições precárias de vida que os impossibilitam aprender. Uma política educacional, para não ser demagógica, deve considerar todos os problemas que enfrentam os entes que dela participam.

No Brasil contemporâneo, atingiu-se ao que alguns críticos chamam de videoesfera, isto é, o predomínio de uma comunicação feita por meio de imagens, inclusive as relativas às palavras, produzidas, ouvidas e lidas nos artefatos do tempo presente. A chegada a esta era foi muito rápida, tendo atropelado a escala, vivida em outros países, da grafoesfera. Passou-se para a imagem, sem se ter bem vivenciado a palavra escrita, sempre reduzida a pequenos círculos sociais. Um dos sintomas disto é o fato de haver no país a publicação anual de centenas de livros, em sua maioria, em pequenas edições, muitas vezes, alcançando não mais do que 1000 exemplares. O número dos que escrevem vem se aproximando velozmente da quantidade real de leitores. Estes, em muitos casos, jamais conheceram o livro, como objeto essencial de suas vidas. Os livros que mais vendem são os escritos por personas midiáticas e/ou os que forem amplamente publicizados nas grandes mídias, vendidos como se fossem pastas de dente ou sabonetes. Não importa a qualidade do produto e, sim, a publicidade e a sintonia com as modas e outras ligações com o espírito de época.

A era da videoesfera reforçou a velha oralidade, onde quase tudo é resolvido por meio da fala, com uma intervenção mínima da palavra escrita. Por isso, a escrita reaproximou-se da fala. Neste cenário, não é difícil compreender a inexistência de qualquer respeito à norma culta da língua. Aliás, esta é um problema porque impede qualquer modernização simplificadora que capture mais leitores e escritores. Foi construída para uma pequena minoria, desconsiderando a necessidade de se instruir às maiorias. O mesmo mecanismo permite compreender o recuo, fortemente preconceituoso, à tradição e aos sensos comuns primários que se postam contra qualquer conhecimento técnico, científico e artístico mais complexo.

Os jovens são muito afetados por todo este processo, porque já ‘estudaram’ em escolas que foram fortemente atingidas pela força dos meios de comunicação do tempo presente. Com exceção das elites mais cultas e politizadas, eles tendem a pensar o mundo com muitas imagens e poucas letras, pior ainda, com pouquíssimas idéias.

Luís Carlos Lopes é professor e autor do livro "Tv, poder e substância: a espiral da intriga", dentre outros.

o Brasil como nação luso-africana: sincretismos & assimetrias

abril 4, 2010 às 1:01 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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rotas afrolusobras2

As versões tradicionais acerca da formação identitária brasileira tendem a realçar o protagonismo dos portugueses e a posição hegemônica alcançada pela cultura desse povo durante o período colonial, a qual acaba por se sobrepor aos valores das diversas sociedades indígenas nativas do território, definindo assim uma matriz ibérica, ou lusitana, para a cultura brasileira, matriz cujas principais e duradouras influências se manifestam na língua, na religião e nos modelos políticos que organizam a sociedade. Apesar da atitude “amnésica” que a maioria dos brasileiros mantém com relação às heranças lusitanas, elas de fato são bastante profundas, sendo interessante, ou perturbante, observar como essas heranças foram abrasileiradas e são hoje imaginadas como invenção original nossa. Dê um salto no MUJIMBO e confira alguns elementos básicos da cultura portuguesa, procurando refletir sobre a maneira como esses elementos se reinserem e são ressignificados nas práticas e ideários do povo brasileiro.

A realidade, entretanto, sempre foi mais complexa, ou mais sincrética, do que as definições oficiais acerca da história cultural do Brasil. Desde os primeiros momentos da construção colonial, também constitui-se uma matriz africana para a futura brasilidade, forjada pelos aportes diversificados de saberes, artes, linguagens e sentimentos trazidos pelos milhões de africanos para cá transplantados à força, e que aqui se refazem identitariamente, entrecruzando seus referentes aos europeus e ameríndios. No ensaio “O colono preto como fator da civilização brasileira”, trabalho pioneiro do pesquisador baiano Manoel Querino, começa-se o desmonte dos esforços da historiografia oficial para apagar o papel do negro africano como co-colonizador do Brasil, abrindo caminhos que encontrarão uma decisiva síntese intelectual e ideológica no livro Casa-grande & senzala, de Gilberto Freyre, obra que pode ser considerada como um texto fundador do imaginário moderno sobre a mestiçagem afro-luso-brasileira. Persiste nela, entretanto, uma perspectiva domesticadora para o valor das heranças africanas, tidas como complementares às matrizes portuguesas, e de restritas funções civilizacionais.

A partir do discurso luso-tropicalista freyriano, consolidou-se uma imagem identitária brasileira na qual os elementos culturais africanos adquirem positividade na medida em que se restrinjam a influenciar apenas alguns setores da vida, tais como as relações sentimentais e sexuais, o misticismo religioso, os costumes cotidianos e as artes e festas populares. Em sua dimensão sociológica, esse sistema possibilita aos sujeitos afrodescendentes integrarem-se aparentemente sem discriminação, e mesmo usufruindo de altos graus de intimidade em seus convívios com os sujeitos europeizados, desde que não contestem a hierarquia civilizacional vigente e reproduzam os “bons” estereótipos, como o do negro trabalhador e humilde, da mulata sensual e “alisada”, da criada devotada e submissa, do “negão” companheiro e esportista. Essas formas parciais e simbólicas de integração, no entanto, não impediram que gravíssimas assimetrias sócio-econômicas se instalassem entre os segmentos mais claros e mais escuros da população brasileira, conforme repetidas pesquisas têm demonstrado, apontando mesmo para diferenças entre a qualidade de vida desses grupos mais acentuadas do que as produzidas por sistemas discriminatórios explícitos, como o apartheid sul-africano. 

olhares negros

 

 

 

 

Esse complexo processo transculturador, ou hibridizante, foi às vezes metaforizado como um “cadinho de raças”, do qual resultou, por uma espécie de fusão bio-cultural, o tipo que chamamos de “moreno”, tido como correspondente à manifestação mais completa, ou harmônica, ou objetiva do sujeito brasileiro. Nas interações sociais efetivas, contudo, a morenidade representa um tipo de “brancura tropical”, cujos modelos estéticos, psicológicos e culturais estruturam-se de acordo com padrões eurocêntricos, dinâmica simbólica que termina por naturalizar as situações de exclusão, de sub-cidadania e de super-exposição à violência que afligem à população afrodescendente.

exterminio juv negra

Entre a assimilação controlada e a purgação desejável, as imagens da africanidade e da negrura encontram-se quase sempre rasuradas ou marcadas por conotações negativas, primitivistas e animalizantes, como discute a professora e pesquisadora de literatura afro-brasileira Maria Nazareth Fonseca em um dos seus ensaios. Quais relações podem ser estabelecidas entre as formas de negociação das heranças africanas no imaginário brasileiro e o conceito de “imaginação do centro” proposto por Margarida Calafate Ribeiro para a discussão dos processos configuradores da identidade portuguesa? 


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