roteiros para trabalhos acadêmicos

junho 24, 2011 às 22:21 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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site posgraduando

Fonte útil para obter modelos e referências metodológicas básicas. Clique na imagem para acessar.

dicas românticas

maio 31, 2011 às 0:25 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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esquema romantismo

alienação_HOUAISS 3

Para entender melhor o conceito marxista de alienação, e a maneira como esse conceito se articula, presentemente, com o problema do consumismo e com a crise ecológica,  uma boa referência é o vídeo “A História das Coisas”, cuja versão dublada para o português pode ser assistida aqui embaixo:

coleção ‘História Geral da África’ disponível para download gratuito

dezembro 11, 2010 às 9:15 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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Brasília: UNESCO, Secad/MEC, UFSCar, 2010.

Resumo: Publicada em oito volumes, a coleção História Geral da África está agora também disponível em português. A edição completa da coleção já foi publicada em árabe, inglês e francês; e sua versão condensada está editada em inglês, francês e em várias outras línguas, incluindo hausa, peul e swahili. Um dos projetos editoriais mais importantes da UNESCO nos últimos trinta anos, a coleção História Geral da África é um grande marco no processo de reconhecimento do patrimônio cultural da África, pois ela permite compreender o desenvolvimento histórico dos povos africanos e sua relação com outras civilizações a partir de uma visão panorâmica, diacrônica e objetiva, obtida de dentro do continente. A coleção foi produzida por mais de 350 especialistas das mais variadas áreas do conhecimento, sob a direção de um Comitê Científico Internacional formado por 39 intelectuais, dos quais dois terços eram africanos. 

Download gratuito (somente na versão em português):

Informações Adicionais:

modernidade & religião: novas (ou velhas?) perspectivas

dezembro 5, 2010 às 23:52 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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simpson da vinci

Como a religião pode acomodar-se no âmbito da onipresente razão científica que estrutura o pensamento moderno? Segundo o teólogo John Spong, é preciso renovar-se as concepções acerca da natureza do divino numa direção “não teísta”, perspectiva que apresenta interessantes semelhanças com a concepção camoniana de Deus, conforme a análise de António Saraiva. Outro instigante viés comparativo seria entre o deus pós-moderno de Spong e o deus imanente e naturalista tantas vezes figurado na poesia de Alberto Caeiro.

 

Um Deus não teísta. Um novo cristianismo para a pós-modernidade

Se o cristianismo quiser continuar falando ao mundo pós-moderno, terá que fazer isso com base em ideias e palavras radicalmente novas. Mudança ou irrelevância, enfim, é essa alternativa: embora a tarefa seja imensa, embora pareça ambiciosa, a reformulação de toda a fé cristã será cada vez mais o seu único caminho de sobrevivência.

A reportagem é de Claudia Fanti, publicada na revista Adista, 29-11-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Esse é uma questão que se tornou central na pesquisa teológica mais avançada, como indica por exemplo a Agenda Latino-Americana 2011, dedicada ao tema "Espiritualidade sem mito. Uma outra religião é possível". E que foi corajosamente abordada em livros que se tornaram pedras angulares nesse ainda breve percurso, como o publicado na Bélgica no ano 2000 e publicado em italiano em 2009 por iniciativa da Massari Editora, pelo jesuíta belga Roger Lenaers, "Il sogno di Nabucodonosor o la fine di una Chiesa medievale": uma tentativa de traduzir a mensagem cristã em uma linguagem em que o homem e a mulher modernos possam se reconhecer.

Ou então o que surgiu em 2002, do teólogo e bispo episcopaliano John Shelby Spong, "A New Christianity for a New World: Why Traditional Faith Is Dying and How a New Faith Is Being Born", que a mesma editora Massari decidiu apresentar ao público italiano, com o título "Un cristianesimo nuovo per un mondo nuovo. Perché muore la fede tradizionale e come ne nasce una nuova" (368 páginas).

Assim, a editora Massari mostra uma atenção confirmada também pela recente publicação do livro de Gumersindo Lorenzo Salas, "Una fede incredibile nel secolo XXI. Il mito del cristianesimo ecclesiastico" (224 páginas, introdução de Giovanni Franzoni).

O livro de Spong é a tentativa de oferecer uma visão do cristianismo "tão radicalmente reformulada que possa viver neste novo mundo audaz" e "tão global que, em comparação, a Reforma do século XVI parecerá uma brincadeira de crianças", mas que permaneça, apesar disso, ligada à "experiência que deu origem a essa fé-tradição há mais de 2 mil anos".

Não por acaso o autor se professa como "um alegre, apaixonado, convicto crente na realidade de Deus": "Acredito que Deus é real e que eu vivo profunda e significativamente em relação com essa divina realidade. Proclamou Jesus como meu Senhor. Acredito que ele mediou Deus de um modo poderoso e único na história da humanidade e em mim".

Porém, acrescenta, "não defino Deus como um ser sobrenatural. Não acredito em uma divindade que pode ajudar uma nação a vencer uma guerra, intervir para curar a doença de uma pessoa querida, permitir que uma equipe esportiva em particular vença a sua adversária".

"Além do teísmo, mas não além de Deus"

Segundo Spong, o Deus entendido teisticamente como "um ser com poder sobrenatural, que habita fora deste mundo e que invade o mundo periodicamente para realizar a sua divina vontade", um ser com poderes milagrosos a ser suplicado, obedecido e comprazido, diante do qual devemos nos prostrar como um escravo diante do patrão, está hoje morrendo, se já não estiver morto.

Embora as autoridades eclesiásticas prefiram continuar o jogo do "faz de conta", gritando sempre mais forte as antigas formulações, o Deus teísta, como "explicação do que era até agora inexplicável", está desaparecendo do nosso horizonte, empurrado sempre mais para as margens por meio de cada nova descoberta científica.

E aos seres humanos, que haviam se confiado com sucesso a essa divindade, durante séculos, para enfrentar a consciência da finitude e da insignificância humana, se encontram agora novamente diante do trauma da solidão e da perda de significado.

Porém, como evidencia Spong, se o teísmo, como descrição humana de Deus, morre, não é óbvio que Deus também deva morrer. Isto é, não é óbvio que a única alternativa ao teísmo seja o ateísmo (ou um insignificante deísmo: isto é, a afirmação de um Deus tão além da vida deste mundo que torna impossível qualquer relação com o divino): "A nossa sempre maior autoconsciência não poderia nos permitir entrar em relação com aquilo sobre o qual o nosso ser está fundamentado, que é mais do que somos, mas que também faz parte daquilo que somos?".

Assim, a nova maturidade que nos é pedida, traduzindo-se na dolorosa, assustadora renúncia a "um ser sobrenatural que nos sirva de genitor, que nos cuide, nos vigie e nos proteja", abre caminho para uma nova busca: a de "uma transcendência que entra na nossa vida, mas que nos chama para além dos limites da nossa humanidade, para um ser externo, mas para o Fundamento de todo o ser", para a compreensão de um Deus que "pode ser aproximado, experimentado, apresentado de modo radicalmente diferente".

A pergunta diante da qual nos encontramos torna-se: "Existe uma realidade que concordamos em chamar com a palavra de Deus, cujo rosto pode estar escondido, mas cujos efeitos posso ver?". E Spong não se isenta à tentativa de dar uma resposta: "Deus é a fonte última da vida. Venera-se Deus vivendo plenamente, compartilhando profundamente". E ainda: "Deus é a fonte última do amor. Adora-se esse Deus amando generosamente, difundindo amor com delicadeza, doando amor sem se deter para avaliar o custo".

E por fim: "Deus é o Ser, e veneramos esse Deus tendo a coragem de ser tudo aquilo que podemos ser", indo além "do modo de sobreviver fechados em nós mesmos, ao qual a vida humana está tão profundamente atrelada". "Hoje, eu vivo – escreve Spong – na convicção de que não estou separado desse Deus. (…). A alteridade vem ao meu encontro. A transcendência me chama. Deus me abraça". E, portanto, "Deus não está morto. Verdadeiramente entramos em Deus. Somos portadores de Deus, cocriadores, encarnação daquilo que Deus é".

O cristianismo do futuro

O autor também não renuncia à tentativa de responder a uma outra pergunta crucial, da qual depende o próprio futuro do cristianismo: "É possível ser capaz de contar a história de Cristo deixando de lado a concepção teísta de Deus?". Renunciando ao retrato terreno do Deus teísta em forma humana, enfim, restaria algo de Jesus? Para Spong, permaneceria uma vida humana que, "apesar disso", torna "conhecível, visível e fascinante o Fundamento de todo ser": "alguém que esteve mais profunda e plenamente vivo do que qualquer outro que eu jamais encontrei", alguém que "rompe os limites" e permite "superar as barreiras humanas e alcançar a divindade que a sua vida revela", que "revela a fonte do amor e depois nos chama a nela entrar".

E, por fim, como será a Igreja no mundo pós-teísta, uma vez que o culto não terá mais o objetivo de confessar os nossos pecados a um "paterno juiz", nem de contar com o poder das orações comunitárias para dirigir o curso da história do mundo, nem de purificar as crianças por meio do batismo "da humanidade caída na qual nascemos", nem de "reatualizar liturgicamente o divino sacrifício realizado para assegurar o nosso resgate de uma suposta condição desesperada de pecado original"?

Se uma nova humanidade "depende da nossa capacidade de irmos além da nossa mentalidade egocêntrica de sobrevivência", um dos objetivos da nova Igreja será o de organizar a vida de culto de modo a encorajar o amor desinteressado pelos outros.

E esse será o motivo pelo qual Jesus continuará estando no centro da nossa liturgia "como fúlgido exemplo de quem conseguiu viver plenamente, amar sem limites e ser tudo o que ele foi capaz de ser".

Do mesmo modo, a Igreja do futuro se dedicará à expansão do Reino de Deus, agindo com determinação não por um programa religioso, mas pelo programa da vida, da vida em abundância para todos, não impondo sua própria verdade a ninguém, mas vivendo só "para aumentar o amor que está presente na vida".

FONTE: IHU Online

o humanismo diferencial da filosofia africana

dezembro 5, 2010 às 23:28 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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ubuntu escultura gana

Bom material midiático para abordar o problema da diferença cultural no plano da filosofia e, mais especificamente de acordo com as questões discutidas na LitPort1, para embasar uma crítica ao ideário humanista etnocêntrico e individualista que mobiliza os primórdios da expansão colonial europeia e portuguesa. Interessante pensar como o “antropocentrismo absolutista” a que se refere Malomalo pode ser compreendido como uma das formulações ideológicas daquilo que António Saraiva diagnostica como a separação entre sujeito e objeto no impulso civilizador europeu.

   

”Eu só existo porque nós existimos”: a ética Ubuntu. Entrevista especial com Bas’Ilele Malomalo

"Sou porque nós somos": em uma frase, esse seria o resumo da ética Ubuntu. Porém, é na construção histórica e cultural dessa ética, que nasce na África que se encontra a sua riqueza. Para o filósofo, teólogo e sociólogo congolês Bas’Ilele Malomalo, toda existência é sagrada para os africanos, ou seja, há um pouco do divino em tudo o que existe. Por isso, "o Ubuntu retrata a cosmovisão do mundo negro-africano".

É por isso que o suposto antropocentrismo que poderia estar por trás do Ubuntu é "relativista", segundo Malomalo, nesta entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. "O ser humano africano sabe que nem tudo depende da sua vontade", afirma. "Esta depende também da vontade dos ancestrais, dos orixás", em suma, do sagrado.

Por outro lado, Ubuntu e felicidade são conceitos que andam juntos: "Na África, a felicidade é concebida como aquilo que faz bem a toda coletividade ou ao outro". E quem é o meu "outro"? "São meus orixás, ancestrais, minha família, minha aldeia, os elementos não humanos e não divinos, como a nossa roça, nossos rios, nossas florestas, nossas rochas". Dessa forma, resume Malomalo, para a filosofia africana, "o ser humano tem uma grande responsabilidade para a manutenção do equilíbrio cósmico".

Bas’Ilele Malomalo é natural do Congo, África, e possui graduação em Filosofia pelo Grand Seminaire Fraçois Xavier – Filosoficum e em teologia pelo Instituto São Paulo de Estudos Superiores (Itesp). É mestre em ciências da religião pela Universidade Metodista de São Paulo e é doutorando em sociologia pela Universidade Estadual Paulista – Araraquara. Atualmente é pesquisador do Centro dos Estudos das Culturas e Línguas Africanas e da Diáspora Negra da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Cladin-Unesp).

A entrevista que segue faz parte de uma iniciativa do IHU, por meio de seu Escritório da Fundação Ética Mundial no Brasil, que busca ampliar o debate sobre Ética Mundial, incluindo também outras perspectivas, especialmente dos povos originários latino-americanos – como o conceito ético do Sumak Kawsay – e africanos – o Ubuntu.
Confira a entrevista.

IHU On-Line – O que é e quais as origens do Ubuntu?
Bas’Ilele Malomalo –
Etimologicamente, Ubuntu vem de duas línguas do povo banto, zulu e xhona, que habitam o território da República da África do Sul, o país do Mandela. Do ponto de vista filosófico e antropológico, o Ubuntu retrata a cosmovisão do mundo negro-africano. É o elemento central da filosofia africana, que concebe o mundo como uma teia de relações entre o divino (Oludumaré/Nzambi/Deus, Ancestrais/Orixás), a comunidade (mundo dos seres humanos) e a natureza (composta de seres animados e inanimados). Esse pensamento é vivenciado por todos povos da África negra tradicional e é traduzido em todas as suas línguas.
A origem do Ubuntu está na nossa constituição antropológica. Pelo fato de a África ser o berço da humanidade e das civilizações, bem cedo nossos ancestrais humanos desenvolveram a consciência ecológica, entendida como pertencimento aos três mundos apontados: dos deuses e antepassados, dos humanos e da natureza.
Com as migrações intercontinentais e a emergência de outras civilizações em outros espaços geográficos, essa mesma noção vai se expressar em outros povos que pertencem às sociedades ditas pré-capitalistas ou pré-modernas. É dessa forma que se pode afirmar que essa forma de conceber o mundo na sua complexidade é um patrimônio de todos os povos tradicionais ou pré-modernos. Cada um expressa isso através de suas línguas, mitos, religiões, filosofias e manifestações artísticas.
Como elemento da tradição africana, o Ubuntu é reinterpretado ao longo da história política e cultural pelos africanos e suas diásporas. Nos anos que vão de 1910-1960, ele aparece em termos do panafricanismo e da negritude. São esses dois movimentos filosóficos que ajudaram a África a lutar contra o colonialismo e a obter suas independências. Após as independências, estará presente na práxis filosófica do Ujama de Julius Nyerere, na Tanzânia; na filosofia da bisoité ou bisoidade (palavra que vem da língua lingala, e traduzida significa "nós") de Tshamalenga Ntumba; nas práticas políticas que apontam para as reconciliações nacionais nos anos de 1990 na África do Sul e outros países africanos em processo da democratização.
A tradução da ideia filosófica que veicula depende de um contexto cultural a outro, e do contexto da filosofia política de cada agente. Na República Democrática do Congo, aprendi que Ubuntu pode ser traduzido nestes termos: "Eu só existo porque nós existimos". E é a partir dessa tradução que busco estabelecer minhas reflexões filosóficas sobre a existência. Muitos outros intelectuais africanos vêm se servindo da mesma noção para falar da "liderança coletiva" na gestão da política e da vida social.

IHU On-Line – Como um princípio ético nascido na África, que manifestações do Ubuntu podemos encontrar na cultura brasileira ou afro-brasileira, tão marcada por raízes africanas?
Bas’Ilele Malomalo –
É preciso voltar à história para capturar as manifestações do Ubuntu em suas diásporas transatlânticas. No Brasil, a noção do Ubuntu chega com os escravizados africanos a partir do século XVI. Estes trouxeram a sua cultura nos seus corpos, e ela foi reinventada a partir do novo contexto da escravidão. Por isso, falar de Ubuntu no Brasil é falar de solidariedade e resistência. Como outros registros histórico-antropológicos que expressam o "ubuntu afro-brasileiro", podemos citar os quilombos, as religiões afro-brasileiras, irmandades negras, movimentos negros, congadas, moçambique, imprensas negras.

IHU On-Line – Como podemos compreender a religião ou o sagrado por meio do Ubuntu? De que forma ele tenciona a noção religioso-transcendental?
Bas’Ilele Malomalo –
Para os africanos e seus descendentes, toda existência é sagrada, quer dizer, há um pouco do divino em tudo o que existe. A religião, como instituição social e sistema simbólico, apresenta-se como o espaço privilegiado de alimentação da “consciência ubuntuística". Através de seus ritos, seus sacerdotes e adeptos a reatualizam. Os mitos, as celebrações, os cantos e encantamentos desempenham essa função de nos religar com nossos deuses, antepassados, com a comunidade, conosco mesmos, com o cosmos e a natureza. Além dos ritos sagrados, os profanos também desempenham a mesma função mística. Na África, os ritos de iniciação, de entronização dos reis ou rainhas estão sempre conectados com a ancestralidade.

IHU On-Line – Dentro da ética Ubuntu, qual é o papel do ser humano e da comunidade?
Bas’Ilele Malomalo –
A concepção africana do mundo é antropocêntrica. Não no sentido absolutista da filosofia iluminista ocidental, que pensa que o ser humano é o centro do mundo e que ele pode tudo e pode fazer tudo o que quiser. O antropocentrismo africano é "relativista". Quer dizer o ser humano africano sabe que nem tudo depende da sua vontade. Esta depende também da vontade dos ancestrais, dos orixás. Se estes revelarem, através de um sonho, de um Ifá, de um sacerdote, do seu pai ou da sua mãe, um acontecimento, será preciso prestar atenção.
Por outro lado, o antropocentrismo africano entende que uma boa prática religiosa só existe naquela que traz a felicidade para o ser humano. Como este não pode ser concebido fora das relações sociais, na África, a felicidade é concebida como aquilo que faz bem a toda coletividade ou ao outro. Os outros são meus orixás, ancestrais, minha família, minha aldeia, os elementos não humanos e não divinos, como a nossa roça, nossos rios, nossas florestas, nossas rochas. Dessa forma, para a filosofia africana, o ser humano tem uma grande responsabilidade para a manutenção do equilíbrio cósmico.

IHU On-Line – Em uma época de crise ecológica e ambiental, como o Ubuntu pode nos ajudar a desenvolver uma nova relação com os demais seres não humanos?
Bas’Ilele Malomalo –
Do ponto de vista filosófico, a crise planetária atual encontra suas raízes na expansão ocidental desde a Idade Média até o surgimento da modernidade. A hegemonia da "razão indolente" (
Boaventura de Sousa Santos) nas suas manifestações através do colonialismo, positivismo, racismo científico, capitalismo selvagem, tem sido o instrumento de aprofundamento dos males da nossa civilização. Esse pensamento absolutizou tanto o homem que este voltou-se contra suas divindades, contra a natureza e contra seus semelhantes. O seu "antropocentrismo absolutista" criou as condições de destruição da sua própria espécie e das espécies não humanas.
Qual é a saída que os pensamentos alternativos têm sugerido? Boaventura de Sousa Santos alega que é preciso acionar a "razão cosmopolita"; Edgar Morin sugere o uso de uma epistemologia da complexidade;
Leonardo Boff tem sugerido a espiritualidade ecológica. É na busca da união umbilical, afirma Boff, que se encontraria a salvação da humanidade, a superação da crise ecológica atual.
Na filosofia africana, Tshamalenga Ntumba tem interpretado o Ubuntu em termos de "Bisoidade". Tal prática se caracterizaria pela abertura ao diferente, encará-lo como parte de nós. Nessa direção, o mundo da fé, das divindades, dos orixás, dos ancestrais deve dialogar com o mundo dos seres humanos e não humanos (natureza/cosmos). Esse conceito vislumbra o encontro ético e político do "Nós". Trata-se do "nós ecológico". Para esse filósofo congolês, a existência significa uma interação entre as três dimensões da cosmovisão africana. As crises políticas, econômicas, culturais e sociais que têm afetado o continente africano, para ele, ocorrem porque o ser humano se esqueceu de cuidar do "biso" ou do "nós ecológico".
Dessa forma, antes dos humanos cuidarem dos não humanos, precisam cuidar da sua casa. Quer dizer, rever suas práticas filosóficas e científicas dentro dos parâmetros éticos. Uma vez feito isso, poderiam ter condições de cuidar do meio em que vivem. Insisto nisso, porque há um certo pensamento ambientalista ligado à razão indolente. Muitos falam do meio ambiente para lucrar. Essa opção leva esses ativistas e cientistas a ocultar as misérias humanas. O Ubuntu é uma crítica à visão simplista e interesseira. Pensar o desenvolvimento ambiental nessa perspectiva é perceber, como Boff, que deve se levar as coisas no contexto da dialética da complexidade, na qual o teológico, o antropológico e o cosmológico-ambiental dialogam sabiamente. Somos nós, os humanos, que devemos procurar o estabelecimento desse equilíbrio planetário. As responsabilidades têm que ser apuradas, e evitar o discurso da hipocrisia burguesa.

IHU On-Line – Como interpretar nossa memória, nosso passado, nossa ancestralidade a partir do Ubuntu?
Bas’Ilele Malomalo –
Na filosofia negro-africana, a ancestralidade é eixo do entendimento da nossa existência. É tudo aquilo que nos proporciona a vivência do nosso presente (sasa, em swahili) e nosso futuro (lobi, em lingala), tendo aqueles que pertencem ao passado (zamani, em swahili), os que nos antecederam, divindades, orixás e antepassados como ponto de leitura das duas primeiras dimensões da existência.
A vontade das divindades, geralmente, concretizam-se pelas vontade dos orixás e ancestrais presentes na sabedoria popular, nos mitos. Os sacerdotes e pessoas mais velhas vivas têm o papel de interpretá-la através dos ritos e práticas do cotidiano.
Desse ponto de vista, os mitos e ritos africanos têm por função pedagógica lembrar aos vivos o seu parentesco com os seres do mundo invisível e visível (seres humanos e seres não humanos). Todos os mitos africanos se pautam nessa lógica. Como os mitos judaicos, os mitos africanos nos informam que os seres humanos têm um pouco de divino; cada um é filho de um orixá; e um pouco da natureza. Conta um mito da criação que Oludumaré (Deus supremo) deu ao orixá Obatalá a missão de criar o ser humano, e este o fez a partir do barro (elemento da natureza). Eis a nossa irmandade planetária. A cosmovisão africana do mundo tem uma importância no sentido de contribuir para o pensamento ecológico contemporâneo.

IHU On-Line – Em uma sociedade embasada em valores ocidentais e modernos como a nossa, que questionamentos políticos, econômicos e sociais o Ubuntu pode fomentar?
Bas’Ilele Malomalo –
O Ubuntu pertence ao pensamento alternativo, que cogita o mundo a partir da complexidade. E é oportuno reafirmar que toda filosofia carrega valores e antivalores. Para a filosofia de Ubuntu, não se pode falar de economia e política sem levar em consideração os valores da comunidade cósmica. Os profissionais de todos os campos da teologia, das ciências sociais e da natureza, políticos, o homem e a mulher comuns, todos devem ser ouvidos. O Ubuntu luta contra os reducionismos impostos pela razão indolente no fazer política e economia. A democracia participativa em todos os campos é tida como um valor. A economia não se reduz ao crescimento. Este tem a ver também com o social e com o cultural. O valor de solidariedade é também importante. 

IHU On-Line – Diante da violência e das desigualdades, que significado têm o perdão, a reconciliação e a compaixão para a ética Ubuntu?
Bas’Ilele Malomalo –
É preciso dizer, primeiro, que as vítimas da violência e das desigualdades são aquelas que compõem a classe dos excluídos por motivos raciais, de gênero, de opção sexual ou religiosa. Os seres não humanos também pertencem a essa classe dos dominados pelo fato de interagir com as classes dominantes, agentes da razão indolente, de uma forma desigual. Com isso, estou querendo afirmar a historicidade da violência e das desigualdades.
Olhando para a história africana e da sua diáspora brasileira, quero citar alguns casos em que o Ubuntu se materializou ou foi tencionado para ser traduzido em termos de perdão, reconciliação e compaixão.
A África do Sul, após a libertação de Mandela e o fim do apartheid, colocou-se como o exemplo histórico da tradução do Ubuntu no projeto político multicultural. Esse país, através de suas lideranças políticas, religiosas e sociais, soube fazer uso dos princípios éticos dessa filosofia através do estabelecimento da Comissão da Verdade e Reconciliação. Tratava-se da recriação de um espaço de diálogo da comunidade de inspiração nos "palabres africanos". Palabre é uma palavra francesa, que se refere aos espaços de mediação de conflitos da comunidade, que contam com a habilidade do uso da palavra por parte dos mais velhos ou sábios. Não se tratava de um espaço de condenação dos torturadores ou racistas, mas sim de um encontro do povo sul-africano consigo mesmo, com seus problemas do passado, com o seu presente e com o seu futuro a ser construído. Um encontro com a sua memória de dor, sofrimento e de esperança. Após esse processo, esse país se define hoje como uma Nova África do Sul, que se reconhece como um país multicultural, onde brancos e negros podem conviver juntos. Dessa forma, o zamani [passado] de sofrimento se transformou num sasa-lobi [presente-futuro] de esperança.
Em 2001, com a Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância Correlata (31 de agosto a 8 de setembro de 2001), em Durban, na África do Sul, as vítimas do escravismo colonial europeu, africanos e seus descendentes, exigiram aos Estados europeus, americanos e africanos um pedido de perdão pelos atos cometidos. Os Estados africanos através do representante da União Africana o fizeram, mas da parte dos dirigentes dos outros Estados houve resistência. Pois muitos não queriam assumir a sua responsabilidade histórica. Afinal de contas, a conferência condenou a escravidão como crime contra a humanidade.
Esses dois exemplos devem inspirar todas as sociedades multiculturais que pretendem propiciar um destino melhor para todos os seus cidadãos. Os países africanos que ainda brigam por causa da hegemonia política ou da gestão dos recursos naturais; os países da América Latina, como o caso do Brasil, onde as sequelas do escravismo e do racismo dividem, proporcionando aos seus cidadãos o acesso aos direitos políticos, econômicos, sociais e culturais de forma diferenciada, devem se servir dos exemplos citados, para que o Ubuntu se torne uma profecia da esperança cumprida.
No caso dos países africanos em situação das ditaduras militares, da democracia de fachada ou da democracia fraca e do pós-conflito, cabe apelar ao Ubuntu como uma nova forma de se pensar e fazer política. Governar, nesse sentido, significa ouvir os opositores, presentes em outros partidos políticos, nas organizações da sociedade civil, nas aldeias para a elaboração de um projeto nacional coletivo. Perdoar significa também fazer justiça em relação às mulheres vítimas de estupros, de genocídios, de matanças por razões de egoísmo dos senhores de guerras africanas. Reconciliação, nesse contexto, significa esclarecimento perante a comunidade dos problemas que afetam as nações, e a partilha das responsabilidades. É uma volta à memória ancestral, aos valores africanos do passado, mas atualizados no presente, e o seu uso no exercício de fazer a política na modernidade. Nesse aspecto, a legitimidade dos dirigentes se fundamenta na prática da lealdade, na busca do bem-estar do povo, e não o contrário.

IHU On-Line – Em um contexto social como o brasileiro, como a ética Ubuntu pode contribuir na situação contemporânea?
Bas’Ilele Malomalo – Uma coisa que Ubuntu tem para nos ensinar, nesse momento histórico, de experimentação de políticas públicas de ações afirmativas e cotas é a consideração dos elementos de perdão, reconciliação e compaixão. Para mim, perdoar significa antes de tudo a identificação das causas de nossos males. Os males, que justificam a situação do subdesenvolvimento da população negra quando comparada com a branca, têm nomes: o nosso passado escravista e o racismo contemporâneo. Tem outros fatores, mas esses dois são suficientes. Para a teologia afro-brasileira, eles são identificados aos pecados.
As instituições e as pessoas reprodutoras dessas práticas têm que assumir suas responsabilidades perante Deus e a humanidade. Num país de maioria cristã como o Brasil, exercer a compaixão significa colocar-se no lugar do outro. As Igrejas cristãs como parte da sociedade civil brasileira devem exercer o seu papel profético ao lado das igrejas, comunidades, pastorais negras, em vez de ficar "em cima do muro". A Igreja latino-americana dos anos de 1970 precisa voltar. O grito de "Maranata" aqui significa que as comunidades religiosas têm o dever ético de fazer ouvir a sua voz e interagir no debate atual sobre as políticas públicas para negros e indígenas.
Reconciliação na perspectiva do Ubuntu, no Brasil atual, é um encontro entre nós mesmos, com o nosso passado de dor, resistência e esperança. É um encontro entre nós mesmos como povo brasileiro. Um povo marcado pela miscigenação emancipatória e não um falso discurso de miscigenação colonialista. A diferença é que o primeiro discurso assume a pluralidade como valor, já o segundo o nega e o encara como uma ameaça.

(Por Moisés Sbardelotto)

FONTE: IHU Online

dialogando com Camões

dezembro 3, 2010 às 12:24 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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folha de poesia_camoes1

Aos estudantes da LitPort1 recomenda-se uma visita demorada à postagem dedicada a Camões no blogue português FOLHA DE POESIA (clique nas imagens). Além de informação variada sobre a biografia desse poeta e sobre o impacto cultural de sua obra, encontramos nessa postagem uma ampla antologia de poesias portuguesas e brasileiras que retomam ideias e questões trabalhadas na obra camoniana.

folha de poesia_camoes2

Pessoa e lusofonia: sugestão de pesquisa

novembro 30, 2010 às 12:51 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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revista pessoa

Clique na imagem acima para visitar o site da Revista Pessoa.

camonices & barbaridades

novembro 26, 2010 às 10:34 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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camoes quadroEis acima uma reprodução da pintura descrita na abertura da “Introdução a Os Lusíadas” de António SARAIVA, na qual se retrata Luís de Camões na prisão. Dividido entre seu patriotismo fervoroso e sua racionalidade renascentista, este poeta produz uma obra na qual também se entrecruzam contradições diversas, sobretudo no que diz respeito a uma avaliação sobre os resultados da Expansão Marítima e à legitimidade moral do empreendimento. Também o poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade discutiu o tema num de seus textos que dialoga diretamente com Os Lusíadas, para lê-lo e ouvi-lo, visite o MUJIMBO. Uma boa análise desse diálogo poético, evidenciando os aspectos negativos do expansionismo português, pode ser lido neste artigo de Francisco Conceição.

No nosso blogue-irmão recomenda-se também a postagem “Amores Bárbaros”, na qual é possível ouvir-se uma versão musicada da “Endecha à Bárbara Escrava” que foi discutida na aula anterior, obter-se mais informações sobre a obra camoniana e seus impasses e, de quebra, ter acesso aos textos de Francisco LIMA nos quais são discutidas definições para diferença e alteridade. Portanto, mujimbem-se!

camoes_moçambique

[estátua de Camões em Moçambique]

Francisco Mateus Conceição

discursos sobre as lusofonias

novembro 6, 2010 às 14:44 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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ciberduvidas

Além de dar suporte para o esclarecimento de questões gramaticais, o site CIBERDÚVIDAS DA LÍNGUA PORTUGUESA disponibiliza antologias de textos curtos que abordam variadas dimensões do nosso idioma “comum”. Para @s estudantes da LitPort1 interessados nesse tema, pode ser uma visita bastante produtiva, confiram clicando na imagem acima.

a escola como poder disciplinar

novembro 6, 2010 às 8:03 | Publicado em Uncategorized | 1 Comentário
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Uma boa sugestão de objeto midiático para ser articulado a um belo poema de Álvaro de Campos:

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A educação sob os parâmetros da biopolítica: o efeito Foucault. Entrevista especial com Sílvio Gallo

Para o professor Sílvio Gallo, a principal contribuição que a filosofia da diferença dá à educação é o fato de que ela compreende a “necessidade de tomar a diferença conceitualmente em si mesma e não como representação ou identidade”. Em entrevista concedida à IHU On-Line, por telefone, o filósofo sobre como as filosofias da diferença, principalmente aquelas pensadas por Deleuze, Foucault e Derrida, compreendem a educação. Sílvio fala também sobre a transição do entendimento da pedagogia como arte para tornar-se uma ciência. “Deixamos de tratar a pedagogia como um saber prático da condução do processo de aprendizado para tratar como certos regimes de verdades de conhecimentos sobre o que é uma criança, isto tendo em vista poder educá-la corretamente, garantindo os resultados que visam ser alançados”, afirma.
Sílvio Donizete de Oliveira Gallo é graduado em Filosofia pela PUC Campinas. Possui graus de mestrado e doutorado em Educação alcançados na Universidade Estadual de Campinas, em que, atualmente, é professor pesquisador e desenvolve o projeto Filosofias da diferença e educação: suas interfaces, suas implicações, suas interferências. É autor de Subjetividade, Ideologia e Educação (Campinas: Alínea, 2009), Deleuze & a Educação (Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2008), entre outros.
Confira a entrevista.

IHU On-Line – Como as filosofias da diferença compreenderão a educação?
Sílvio Gallo – Ainda estou num patamar muito inicial dessa compreensão. Há várias dimensões que poderíamos trabalhar para entender essa questão. O que eu tenho focado é justamente pensar o conceito de diferença pela
perspectiva filosófica e o que isso implicaria em discussões mais contemporâneas de educação. O que venho levantando é uma crítica sobre como se faz essa discussão porque ela tem tomado a diferença como representação e não tomando a diferença como diferença em si mesma. Essa é a principal contribuição que a filosofia da diferença poderia nos dar, ou seja, a necessidade de tomar a diferença conceitualmente em si mesma e não como representação ou identidade. Nos discursos que temos visto sobre educação inclusiva, por exemplo, a diferença é tomada sempre como diferença em relação a uma identidade. Isso faz com que se apague a diferença efetiva. A pedagogia inclusiva não é uma pedagogia de afirmação da diferença, mas de apagamento da diferença.

IHU On-Line – O que o senhor pode falar a respeito do “efeito” de Foucault na educação?
Sílvio Gallo – Eu trabalho essa questão desde 2005 de forma mais articulada. O que propus, enquanto projeto, foi uma leitura do que estou chamando de filosofia da diferença na versão francesa que vai compreender, basicamente, filósofos como
Deleuze, Foucault e Derrida. Essa filosofia tem um ponto de partida que foi posto por Nietzsche no final do século XIX, ao propor que a filosofia pense a diferença. A partir disso, temos duas vertentes básicas: uma na filosofia alemã, trabalhada principalmente por Heidegger e outra francesa, trabalhada pelos três filósofos citados anteriormente. No meu projeto sigo a vertente francesa. Nessa direção, o que fiz até agora foi, primeiramente,  focar em como se dá a gênese da filosofia da diferença na filosofia de Nietzsche. Num segundo momento, me dediquei a Deleuze focando principalmente o conceito de diferença e, a partir daí, busquei elementos para compreender a educação. Quando passo a entender o conceito de filosofia da diferença a partir de Foucault, faço um estudo da obra dele centrando a discussão numa leitura dos cursos que este pensador deu.
A ideia dessa fase do projeto é fazer uma leitura regressiva, ou seja, parti do último curso dado por Foucault em 1984 e depois fui retrocedendo. Esse curso está muito voltado para a ideia da filosofia antiga e nos conceitos de cuidado de si e parresia. Nesse momento, estou trabalhando essa etapa da produção intelectual do Foucault para buscar os aportes disso na
educação. Desde as relações que ele mesmo faz nessas obras, percebemos que essa questão é muito intensa. Quando ele está tratando de textos gregos antigos, de como alguém cuida de si mesmo e se preocupa com dizer a verdade num processo de formação, Foucault está lidando muito diretamente com questões educacionais mais formais e até de uma formação no sentido mais geral. A ideia é tanto evidenciar esse trabalho que ele faz com relação à educação, como esses aportes que ele fez da filosofia antiga para pensar problemas contemporâneos da educação. Essa é a direção do que pretendemos desenvolver ainda nesta pesquisa.

IHU On-Line – Que jogos de “poder e saber” foram feitos pela Pedagogia para que esta pudesse se transformar em ciência?
Sílvio Gallo – Essa é uma questão complexa. Poderíamos ver, no processo de constituição da pedagogia na modernidade, um trabalho bastante curioso. Se olharmos panoramica e retrospectivamente esse período, veremos que a educação era considerada uma arte, uma ação do conhecimento de natureza prática. E o que vemos na modernidade, a partir do século XVII, é todo um procedimento de afirmação da ciência, e isso
Foucault analisa em diversos momentos, que vai organizando nossa forma de pensar, agir e produzir conhecimento. Tudo isso teve um impacto extremamente forte na produção científica. E, assim, assistimos, na pedagogia, uma conformação a essa lógica moderna que é da produção da verdade segundo os cânones da ciência. O que vemos, no âmbito da pedagogia, é o seu desejo de se constituir como tal, o aporte que a psicologia traz para isso – aliás, a psicologia serve como a grande base da pedagogia, porque a primeira ciência mostra saber o que é a criança e como ela pode ser educada.
Assim, deixamos de tratar a pedagogia como um saber prático da condução do processo de aprendizado para tratar como certos regimes de verdades de conhecimentos sobre o que é uma criança, isto tendo em vista poder educá-la corretamente, garantindo os resultados que visados. Por outro lado, teríamos também, e essa é uma reflexão importante que Foucault faz em Vigiar e Punir, uma discussão em torno dos jogos de poder que aí se estabelecem. É a invenção do exame que permite que a pedagogia se torne uma ciência. Agora, eu diria que, embora tenhamos todo esse processo no período moderno, e que deu certo, felizmente vemos que os estudantes e professores o tempo todo traçam linhas de fuga em relação a esse processo todo. É um processo que funciona, mas que dá possibilidades de se escapar o tempo todo também.

IHU On-Line – Como o senhor vê a transição do poder disciplinar para o biopoder?
Sílvio Gallo – Não sei se poderíamos falar em transição, porque esta dá a ideia de substituição de um por outro. E não é isso que Foucault coloca. Ele fala numa complementaridade entre essas duas técnicas de poder. Na medida em que a disciplina – entendida como um poder individualizante, que age sobre o corpo de cada indivíduo – se assenta e funciona, é que os Estados começam a operar dentro da lógica do
biopoder. Tendo os indivíduos absolutamente disciplinados, conseguimos trabalhar com um poder que se exerce já não só sobre o indivíduo, mas sobre a população. Há uma complementaridade entre os dois porque o próprio biopoder só pode ser exercitado na medida em que se tem um conjunto populacional disciplinado. Desta forma, o âmbito da educação é interessante ser observado na medida em que vemos a complementação de um com o outro na atuação do poder disciplinar enquanto uma lógica de controle e de organização da instituição e uma lógica de disciplinarização dos estudantes na instituição. Não deixa de ser curioso, portanto, que cada vez mais nós ouçamos falar da preocupação da chamada classe política sobre a educação. 

IHU On-Line – Há um projeto lançado pelo MEC que prevê que não haja reprovação nos três primeiros anos escolares. Podemos dizer que essa medida do MEC é uma espécie de mecanismo de disciplinamento? A reprovação pode ser encarada como uma maneira de biopoder?
Sílvio Gallo – Aqui em São Paulo temos um processo de progressão continuada instalada a mais de uma década que tem sido defendido por uns e criticado por outros. Se pensarmos com as ferramentas conceituais que Foucault nos coloca, eu diria que a
reprovação é um efeito de um processo avaliativo que é de natureza disciplinar. Você estabelece os espaços do aprendizado, metrifica aquilo que é ensinado, avalia o quanto foi aprendido segundo esses critérios e protocolos e a criança que não atingiu aquilo que se convenciona é reprovada. Assim, a reprovação funciona no contexto da disciplina, ele é reprovado para fazê-lo aprender melhor no contexto dessa noção de aprendizado como algo que pode ser controlado. Por outro lado, a ideia da não reprovação está ligada a um jogo biopolítico, porque, na medida em que se afirma que não vai mais reprovar nas três primeiras séries ou durante todo o primeiro ciclo do ensino fundamental, é feito um jogo de planejamento do sistema educacional como um todo. E esse jogo está justamente na direção daquilo que Foucault chamou de biopolítica. No caso do Estado brasileiro, isso está muito relacionado com alcançar os índices propostos pelos organismos internacionais. Durante muito tempo, o Brasil foi criticado por ter altos índices de reprovação e de evasão escolar, então uma forma de se reduzir esses índices é através da progressão continuada. Não que isto vá fazer funcionar melhor o sistema de ensino, mas melhora esses índices apresentados aos organismos internacionais em busca de financiamentos.

IHU On-Line – O discurso sobre a falta de qualificação do professor está presente de que forma dentro dessa ideia de biopolítica na educação?
Sílvio Gallo – Sim. Você faz o discurso da falta de qualificação pelo viés de uma certa concepção de educação. Se pensamos a pedagogia como técnica, como no início da Modernidade, não faria muito sentido falarmos em qualificação do
professor. Faz mais sentido pensar, portanto, em vocação do professor, em algo intrínseco a ele que o faz estar ou não preparado para esse ato de educar. Mas quando temos a colonização do campo da educação por esse viés cientifico é quando vamos buscar a garantia da boa atuação do professor na sua qualificação profissional. Então, ser qualificado profissionalmente, ter uma boa preparação é justamente o que garante a boa atuação. Num quadro de planejamento educacional, em termos de um estado ou de um país, que é o que chamaríamos de controle populacional que se exerce, nos termos da biopolítica, o discurso da qualificação ou não do professor entra como um dos elementos disso que podemos chamar de biopolítica da educação.

Para ler mais:

FONTE: IHU On-Line

pessoa páginas vento2

 

LIBERDADE

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa…

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca…

(clique e ouça Interpretado na voz de João Villaret)

LitPort 1, avaliação 2: trovadorismo

outubro 9, 2010 às 9:33 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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trovadora

Entrega: 15-19/10 (individual, 3 pts)

Faça um resumo (10-20 linhas) de um dos textos da bibliografia do curso referentes à Trova Medieval Galaico-Portuguesa (CIDADE; VIEIRA; RECKERT, conferir abaixo). Selecione um poema de um@ autor@ português@ que possa ser relacionado a um dos assuntos destacados em seu resumo. Justifique a escolha do poema num texto de 15-20 linhas.

BIBLIOGRAFIA:

RECKERT, Stephen. Semiótica da cantiga (cantigas medievais como significantes poéticos de significados antropológicos). In: Revista Lusitana. n.4. Lisboa: Instituto Nacional de Investigação Científica, 1982-83.

VIEIRA, Yara Frateschi. Introdução. In: Poesia medieval. São Paulo: Global, 1987.

CIDADE, Hernâni. Cancioneiros medievos e particularmente a obra de D. Dinis. In: Portugal histórico-cultural. s./l.: Círculo do Livro, 1973.

resumir

Para a realização desta atividade, recomendamos uma consulta às postagens modelo de resumo: recordando, e sobre os relatórios das apresentações, ambas publicadas neste blogue. Seguem abaixo mais algumas dicas importantes para a boa realização do resumo acadêmico:

1) Todo resumo é sempre um trabalho de reescrita sintética de um texto-matriz. Logo, o resumo NÃO se compõe pela cópia de passagens selecionadas, mas pela reapresentação dos conteúdos do texto-matriz através de paráfrases.

2) Um resumo NÃO deve explicar as informações e as ideias que integram o texto-matriz, mas apenas descrevê-las, buscando o máximo de clareza expositiva. O emprego de frases curtas, o rigor na pontuação e o uso adequado dos conectivos verbais na articulação das orações são critérios básicos para a obtenção dessa clareza. Igualmente importante é preservar, na construção do resumo, a ordem argumentativa desenvolvida no texto-matriz.

3) Do ponto de vista pedagógico, um dos principais objetivos do exercício de composição de resumos acadêmicos é o de ampliar o domínio d@ estudante sobre o léxico da língua portuguesa, seja incorporando novos vocábulos, seja refinando as significações atribuídas às palavras de uso costumeiro, considerando sobretudo os seus sentidos teórico-conceituais. Assim, os dicionários, tanto generalistas quanto especializados, são ferramentas FUNDAMENTAIS para a elaboração de bons resumos.

4) O resumo deve ser redigido em um único parágrafo, iniciando-se por uma oração que sintetize o objetivo ou a temática do texto-matriz. De seguida, devem ser apresentados os assuntos principais que desenvolvem a temática. Na finalização devem ser também sintetizadas as conclusões.

 

redação científica on-line

setembro 25, 2010 às 7:25 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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redação volpato

Clique na imagem acima para visitar o site dessa interessante iniciativa da Unesp. O curso aborda questões introdutórias e limita-se a uma exposição panorâmica, contribuindo certamente para ressaltar questões fundamentais no aprendizado da expressão escrita, em especial das particularidades da linguagem acadêmica. Confiram.

re-caracterizando o Barroco

maio 9, 2010 às 12:26 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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Agudeza_y_arte_de_ingenio

Um pequeno esquema para ajudar-nos a sistematizar alguns conceitos e questões trabalhadas desde o início do curso. Compare o esquema proposto abaixo com as versões disponíveis nos sites de vestibulares: o que há de diferente? alguma coisa se modificou em sua forma de encarar as qualidades geralmente atribuídas à estética barroca? Fundamental, também, é buscar poemas nos quais seja possível visualizar as diversas dimensões e figurações dos elementos relacionados a seguir.

esquema barroco

baroque-wedges_49 (sapato barroco)

letras para download

abril 15, 2010 às 1:38 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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letrasusp

A cada dia, a cada minuto que passa, amplia-se num ritmo formidável  a disponibilização de informações e de saberes na rede eletrônica mundial, a famosa internet. Tão imensa e tão labiríntica, o desbravamento dessa rede exige do pesquisador um trabalho contínuo de atualização dos roteiros de busca e dos “favoritos”.

Nas prateleiras eletrônicas do blogue LETRASUSP DOWNLOADS disponibiliza-se uma diversificada biblioteca básica para os estudos literários em suas principais vertentes brasileiras e estrangeiras, além de obras importantes no campo da linguística e das interfaces desta com a literatura. Sem dúvida, vale algumas horas de pesquisa, com garantia de resultados frutuosos.

pesquisando em revistas acadêmicas

abril 11, 2010 às 16:24 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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dica_pesquisa_c

A pesquisa na internet, para ser eficaz, sempre exige persistência, refinamento e muita criatividade. A diversidade dos temas atribuídos às Tríades, na LitPort 2, demanda também uma perspectiva interdisciplinar para a localização de fontes. No âmbito dos textos acadêmicos, uma fonte ainda pouco explorada pelos estudantes, apesar de sua vasta riqueza, é o PORTAL DE PERIÓDICOS DA CAPES, a partir do qual se podem acessar inúmeras revistas especializadas. Importante lembrar que nem sempre os sites dessas revistas dispõem de bons sistemas internos de busca, reclamando a leitura de sumários e índices de sucessivas edições, mais ou menos como folheamos livros numa biblioteca “de papel”. Outras dicas para a pesquisa podem ser obtidos no site DIA-A-DIA @DUCAÇÃO, da Secretaria de Educação do Paraná, clicando-se AQUI ou na imagem acima.

Aliás: já experimentou digitar no Google “pesquisar na internet” para ver o que aparece?

pesquisar internet

modelo de resumo: recordando

março 20, 2010 às 2:53 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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olhar humanistico Tornamos a chamar a atenção para o interessante artigo de uma Tríade de pesquisadoras da UNICAMP que também se propõem a repensar fundamentos das práticas pedagógicas nos cursos universitários (clique na imagem para lê-lo na íntegra). Especialmente para @s estudantes da LitPort 2, a discussão entabulada pelas autoras pode sugerir aplicações concretas para nossos futuros estudos acerca do caráter re-humanizante e emancipador da estética romântica. De imediato, para ambas as turmas, coloca-se a questão: até que ponto o trabalho pedagógico com o texto literário pode ser articulado às preocupações destacadas pelas autoras? Bom tema para desenvolver na seção de comentários desta postagem, né?

Atentar também para o uso adequado que as pesquisadoras fazem, na redação do resumo, dos operadores verbais característicos do estilo acadêmico de escrita, sem deixar, inclusive, de incorporar elementos coloquiais, assim confirmando as interfaces fluentes entre a língua do dia-a-dia e a objetividade requerida pelo discurso científico. Fluência já percebida por um dos mais ilustres escritores do Barroco português, Francisco Rodrigues Lôbo, que recomendava expressamente, para os amantes da linguagem, o “falar vulgarmente com propriedade”, competência bem definida numa barroquíssima metáfora registrada em uma de suas obras mais importantes, A Côrte na aldeia (1619): “assim como a melhor pintura é a que retrata com mais semelhança a obra da natureza,… assim a melhor escritura é a que retrata com mais semelhança a fala”, proclamava Lôbo. Clique na imagem abaixo e saiba mais sobre este escritor no site do Projecto Vercial. 

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versão legendada de “Os Lusíadas” na xerox

novembro 9, 2009 às 17:26 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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lusiadas azul

Já se encontra à disposição dos estudantes na xerox do campus fotocópias dos Cantos I e IV de Os Lusíadas. As cópias foram tiradas da edição feita por António Saraiva, que inclui paráfrases explicativas de todas as estrofes. Boas navegações nos mares épicos desse poema sempre atual.

sobre os relatórios

outubro 26, 2009 às 19:48 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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rosaventos1

No que diz respeito à composição dos relatórios, reitero a seguir algumas orientações básicas que sintetizam aquilo já sugerido em classe.

O relatório pode ser estruturado de acordo com os seguintes tópicos:

* INTRODUÇÃO: apresentação de conceitos  teóricos ou dados contextuais relevantes para a compreensão do tema.

* DESENVOLVIMENTO:

  a) resumo do texto teórico (+ referência bibliográfica)

  b) resumo do texto midiático   (+ referência bibliográfica)

  c) análise do(s) texto(s) literário(s), na qual seja colocada em destaque a relação entre o texto selecionado e o tema do curso (isto é, Modernidade Portuguesa e a obra de Fernando Pessoa, para a LitPort3; Narrativas Fundadoras Luso-Brasileiras, para a LitPort1)

De maneira a dar mais substância ao relatório, é importante acrescentar aos resumos uma breve justificativa da equipe para a escolha daqueles textos: o que houve neles de especial que chamou a atenção durante a pesquisa? qual enfoque ou recorte especialmente interessante o texto realiza sobre o tema?

Para finalizar, pode-se fazer uma relação bibliográfica de todos os textos utilizados pela equipe para montar a apresentação. No relatório, basta resumir/analisar aqueles que a equipe elegeu como os principais.

Pessoa em múltipla escolha

outubro 23, 2009 às 17:40 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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hetero2

Será possível abordar de maneira objetiva e direta a poesia pessoana? O blogue Heteronomia não é Heteronímia demonstra claramente que sim, o que não implica em “facilitar” a leitura e interpretação desses textos, sempre sobrecarregados das tensões ambíguas da modernidade. De qualquer forma, vale a pena um passeio por este blogue (clique nas imagens), tendo em vista relembrar dicas básicas para a análise de textos poéticos, ou juntar informações e argumentos que possam ser úteis para desenvolver em estilo digressivo, conforme será solicitado em nossa prova, a discussão sobre a obra de Fernando Pessoa. Abaixo, fica um exemplo dos exercícios de aquecimento que o blogue aqui indicado proporciona.

hetero1

PROVA adiada, REDAÇÃO mantida: orientações

outubro 18, 2009 às 2:25 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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persistencia da memoria_DALI 

(“A persistência da memória”, Salvador DALI, 1931)

De maneira a ganharmos mais um dia de aula para discutirmos os textos, nossas provas, tanto na LitPort1 quanto na LitPort3, ficam adiadas para o dia 30/10, data na qual, impreterivelmente, também devem ser entregues os relatórios das apresentações. Igualmente inadiável é a entrega da segunda redação no dia 23/10. Recordo que o tema da mesma é uma avaliação pessoal, feita por cada estudante, do conjunto das apresentações, devendo também ser feitas as indicações, seguidas de justificativa, do tema que mais interessou ao/à estudante e da equipe que, em sua opinião, melhor se apresentou. A redação deve ter duas (2) páginas, sendo precedida apenas de um cabeçalho com a identificação do/da estudante, data e título da redação. Preferencialmente, encaminhem a redação, em documento Word, para o meu email.

É recomendável estar consultando o blogue com assiduidade pois novas postagens com dicas e sugestões de leituras se tornarão mais frequentes nesses próximos dias, especialmente a partir do próximo final de semana. Desde já, para @s estudantes da LitPort3, fica para reflexão um poema de Álvaro de Campos que coloca em foco as percepções contraditórias quanto à passagem do tempo que afetam aos sujeitos modernos. Algumas dicas importantes para analisar este poema podem ser obtidas no texto “Álvaro de Campos e a definição de um sujeito na vida moderna”, de Ana Lúcia Teixeira, disponível para download AQUI.

 

ADIAMENTO

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã…
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não…
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjectividade objectiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um eléctrico…
Esta espécie de alma…
                                Só depois de amanhã…
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte…
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos…
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã…
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro…
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã…
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância…
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital…
Mas por um edital de amanhã…
Hoje quero dormir, redigirei amanhã…
Por hoje qual é o espectáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espectáculo…
Antes, não…
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã…
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã…
Sim, talvez só depois de amanhã…

O porvir…
Sim, o porvir…
(14-4-1928)

horoscopo campos(mapa astral de Álvaro de Campos traçado por Fernando Pessoa)

sobre os relatórios das apresentações

outubro 2, 2009 às 10:16 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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O exercício proposto na elaboração dos relatórios volta-se, principalmente, para a capacitação no uso de uma linguagem objetiva e descritiva. O que caracteriza essa linguagem é a concisão, a intenção informativa (e não explicativa), a postura neutra, enfim, aquilo que poderíamos chamar de “estilo apresentativo”. Os sentidos das frases, portanto, devem ficar claramente explicitados; as relações frasais e temáticas devem ser construídas através dos conectivos apropriados; a pontuação do texto deve ser observada com tanto rigor quanto a correção ortográfica. Embora seja normal um certo grau de repetitividade na linguagem do relatório, é preciso evitar as redundâncias. Observe abaixo um mapa conceitual que pode lhe a judar a visualizar como deve ser estruturada a argumentação no relatório:

mapa conceitual (acesse AQUI o artigo de Maria Aparecida Pereira Viana de onde foi emprestada esta imagem)

 

Os relatórios da nossa atividade não precisam de capa, basta um cabeçalho do qual conste identificação institucional ("Universidade Federal de Sergipe", etc), data e nomeação dos membros da equipe. Segue-se uma Introdução, na qual a equipe deve apresentar conceitos para o tema que foi trabalhado na apresentação. No Desenvolvimento, a equipe deve descrever os textos selecionados e apresentados através da seguinte sequência de tópicos: um resumo do texto teórico; um resumo do texto midiático; discussão dos textos literários. Cada tópico deve ser encabeçado pela referência bibliográfica completa do texto selecionado.

O fundamental quanto aos resumos e às discussões é que esses materiais sejam compostos pelos estudantes, com suas próprias palavras, procurando atingir os seguintes objetivos: qual o assunto principal dos textos? quais são os conteúdos dos textos que se referem ao tema da equipe? quais são os questionamentos ou problemas que, segundo os textos, merecem destaque no tema? o que os textos literários trazem de diferente na abordagem do tema? Também é importante que sejam destacadas passagens dos textos especialmente interessantes, justificando-se a seleção.

Não é necessária conclusão, exceto se a equipe desejar incluir um breve depoimento sobre o que significou para os integrantes, como experiência de vida ou de aprendizado, pesquisar e refletir sobre o tema. O relatório deve ser entregue juntamente com cópias impressas e identificadas bibliograficamente dos textos selecionados.

mujimbando: rotas luso-angolo-brasileiras para leituras das identidades

setembro 3, 2009 às 20:22 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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mujimbo rosa-dos-textos

O blogue LUSOLEITURAS tem um irmão mais velho, o blogue MUJIMBO, que pus no ar no ano passado, para subsidiar cursos que ministrei nas universidades Federal e do Estado da Bahia. Tal como esclareço na Descrição desse blogue, pretende-se nele construir um ponto de vista africanista & angolanizado para as questões lusófonas. Principalmente para os estudantes da LitPort 1, o MUJIMBO oferece um conjunto diversificado de referências úteis para aprofundar os temas desta disciplina. Clicando nos links você será remetid@ para uma postagem do MUJIMBO na qual é possível acessar o texto “Você tem cultura?”, do antropólogo brasileiro Roberto  DaMatta, leitura especialmente interessante para decidir até que ponto é sociologicamente correto falar em “baixa” & “alta” cultura, em culturas “primitivas” & “desenvolvidas”. Também recomendáveis & disponíveis são “Eu e o outro”, do escritor angolano Manuel Rui, & “O entrelugar do discurso latino-americano”, do crítico brasileiro Silviano Santiago, textos que, se valendo de perspectivas & expressões distintas, problematizam as relações entre cultura, identidade & memória colonial.

Para quem desejar ampliar a navegação no MUJIMBO, recomenda-se, como disse, a leitura da Descrição &, de seguida, acessar todas as postagens, que estão ordenadas de forma progressiva & remetem a percursos variados para o conhecimento das literaturas & culturas lusófonas. Fiel às suas matrizes africanas, há também muita música no MUJIMBO, muitas canções que confirmam o enorme poder de tradução da música popular para as significações & os problemas centrais dos imaginários tropicas.

identidades: o individual, o cultural, o nacional & Stuart Hall

setembro 3, 2009 às 18:56 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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Nas duas últimas postagens penduramos exemplos de textos midiáticos & literários que podem servir de apoio para as discussões relacionadas aos temas introdutórios de nossas apresentações. Tanto na abordagem neurofisiologista de Marcelo Gleiser quanto na leitura estético-documentarista de Roberta Franco, enfatiza-se a importância em compreender as identidades como sistemas simbólicos. Ao nível pessoal, esses sistemas constituem-se pelas memórias individuais; ao nível coletivo, pela partilha de valores culturais.

Cultura pode ser muito sintetica & genericamente entendida como todo tipo de ação & reflexão humana sobre a realidade; uma realidade, por sua vez, continuamente recriada pela própria cultura. Sob um ponto de vista social e evolucionista, as culturas são estratégias de adaptação, são as estruturas materiais & imaginárias a partir das quais as comunidades humanas se organizam, se especificam & se desenvolvem historicamente. Conforme discute Stuart Hall no capítulo 3 de A identidade cultural na pós-modernidade, uma das melhores maneiras para se enxergar essas estruturas imaginárias é pela leitura das narrativas identitárias nacionais, daquelas estórias circuladas e retransmitidas cujos significados conectam “nossas vidas cotidianas com um destino nacional que preexiste a nós e continua existindo após a nossa morte” (HALL , 2006, p. 53).  Assim, em última instância, toda identidade se materializa como aquilo que Michel Foucault chamaria de uma “formação discursiva“. Para quem desejar saber mais sobre o livro de Hall, vale a pena conferir alguns bons exemplos de resenhas do mesmo, escritas por Dennis de Oliveira,   Jacqueline Ramos & por um Autor Desconhecido que pendurou a sua no sítio da Usina das Letras. Uma quarta resenha, mais detalhada e composta com esmero, é assinada pela letreira Genny Xavier, & pode ser acessada em seu blogue Baú de Guardados. Uma leitura cuidadosa desse panorama de resenhas, além de oferecer mais nitidez para um conceito-chave em nossos cursos, proporciona uma valiosa experiência de familizarização com os diversos estilos que compõem a escrita acadêmica. Com qual deles você mais se identifica?

Abaixo, uma bela foto de Stuart Hall:

stuarthall tricolor

hipernavegar é preciso

setembro 2, 2009 às 16:21 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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A lista das ligações, na margem direita do blogue, tende a estar sempre em expansão. Alguns sítios, desde já, merecem uma visita demorada: a Biblioteca Digital Camões & os textos de Fernando Pessoa disponibilizados no Arquivo Pessoa, especialmente os textos não-literários. Visite estes & outros sítios buscando tanto os textos que atendam ao seu tema como familiarizar-se brevemente com o material disponível sobre os outros temas.

sobre as apresentações

setembro 2, 2009 às 15:54 | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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Cada equipe deve organizar sua exposição oral buscando cumprir 3 objetivos básicos: informar sobre o tema, indicar  manifestações sociais e contemporâneas do tema, discutir representações literárias do tema. A seleção e desenvolvimento dos textos precisa ser sintonizada com esses objetivos.

O texto teórico ideal é aquele que apresente um panorama relativamente amplo do tema, sem perder de vista o destaque para o contexto português. Agregar textos complementares sempre é uma boa estratégia para atingir esse ideal.

A utilização de recursos audiovisuais é estimulada, em combinação equilibrada com a citação de passagens e a exposição direta dos estudantes sobre o tema.

bussola copo


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